“Na Pele Dela” a mais recente exposição em que eles fazem delas. Esta mostra fotográfica conta com 16 homens , figuras públicas, em que todos eles estão em papéis normalmente associados a mulheres. Uma maneira de combater a desigualdade. A exposição está presente no TODOS Playground, em Marvila.
Desde cedo se normalizou a ideia de que só existem duas identidades, a masculina e a feminina. Na cultura judaico-cristã, a mulher primordial foi criada como auxiliar do homem, a partir da sua costela e para o complementar.
O sexo feminino começou a ser visto alegadamente como um ser incompleto e por definição inferior. Foi-lhe associado o conceito de “segundo sexo”, criando em seu redor um auro de fragilidade e impotência, de inocente e paralisante.
A ideia foi tão amplamente propagada pela Igreja Católica que moldou as mentes da cultura ocidental. Esta evidente dictomia na perceção e tratamento de homens e mulheres (e a obsessão inconsciente de que só se é homem ou mulher) é causa e consequência da desigualdade que ninguém questionou até hoje.
É neste âmbito de indignação e desrespeito pelo sexo feminino que Maria Lopes, produtora, programadora e DJ, decidiu que tinha que meter mãos ao trabalho para igualar os dois géneros. “Desde há muito tempo que tinha vontade de fazer um projeto fotográfico sobre a temática da igualdade de género. A ideia inicial tinha mais a ver com o abuso do corpo da mulher nas redes sociais”, revelou Maria Lopes. Após conhecer Mário César, especialista na área da publicidade, marketing e fotografia, decidem elevar o conceito para uma exposição fotográfica.
Convidaram 16 figuras públicas, todas elas bem conhecidas da sociedade portuguesa e maioritariamente ligadas ao mundo das artes, para se porem “Na Pele Dela” por um dia. Albano Jerónimo, Carlão, Hélio Morais (Linda Martini), Igor Ribeiro (Ghetthoven), Jhon Douglas, Julião Sarmento, Leonaldo de Almeida, Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e Tomás Wallenstein (Capitão Fausto) são alguns dos retratados.
Questionados pelo Orientre sobre a dificuldade e aceitação dos protagonistas, revelaram ” A escolha foi muito natural. Com quase todos eles, ou já tinha tido o prazer de trabalhar no passado, ou eram meus amigos”, explica Maria. Ainda assim, “houve uma preocupação de atingir diferentes públicos, de fazer com que estas imagens chegassem ao maior número de pessoas possível”. Mário César acrescenta: “Foi importante termos conhecimento que estas pessoas tinham ideais alinhados com a mensagem do projecto. E todos aceitaram o desafio sem pensar duas vezes”, revelaram.
O projeto pretende tirar proveito desta dicotomia ultra simplificada e criticar a sociedade que a protege, através da representação de figuras masculinas Na Pele Dela, fotografadas na performance de uma cena tipicamente associada ao feminino : a depilação, a manicure, a maquilhagem, as tarefas domésticas, são ações que foram paradoxalmente vedadas aos homens, mostrando à audiência imagens de época barroca que retratam o que não deixou ainda de ser a nossa realidade.
Mário César que, além de valorizar o lado artístico da fotografia, vê nas imagens “um meio de contar histórias”, acolheu a ideia desde o primeiro dia e, a partir daí, tornou-se um trabalho sempre em desenvolvimento. “Apesar de termos tido muitos apoios, este é um projecto independente. Não tínhamos propriamente uma equipa e tivemos de ir coordenando este com os nossos trabalhos”, explica.
A iniciativa, que é apoiada pela ILGA Portugal (associação que luta pela igualdade de género, para a qual reverterão os lucros da venda das obras), pode ser visitada entre os dias 19 e 22 de setembro.