O casamento entre o Teatro Ibérico e a Companhia João Garcia Miguel
João Miguel Osório de Castro Garcia dos Santos é diretor da Companhia João Garcia Miguel e, desde 2016, presidente da Associação do Teatro Ibérico. Chegou ao Beato depois de mais de 30 anos no mundo do teatro. Passou por Almada, Intendente, Torres Vedras e agora espera ficar, pelo menos mais quatro anos, no Teatro Ibérico. Manter a essência do bairro do Beato e os traços característicos que o fazem tão especial é uma das preocupações deste profissional das artes.
João, o homem do teatro
João Garcia Miguel nasceu em 1961, iniciou a sua atividade artística profissional entre o final dos anos 80 e início dos anos 90 enquanto estudava na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. É um dos fundadores do grupo experimental Canibalismo Cósmico e esteve envolvido na fundação da Galeria de Arte Zé dos Bois de Lisboa. Entre 1991 e 2002 dirigiu a Associação de Teatro OLHO, em Almada até que criou a sua própria Companhia de Teatro que batizou com o próprio nome.
Depois de alguns anos sediada no Espaço Coisa, em Torres Vedras, a companhia regressou a Lisboa para ocupar uma das mais emblemáticas salas da cidade, o Teatro Ibérico, no antigo Convento de São Francisco de Xabregas.
Teatro Ibérico, no Beato
Tudo começou em 1981, quando um grupo de jovens atores, à frente dos quais se encontrava Xosé Blanco Gil, decidiu fundar a Associação Teatro Ibérico. Um acordo com o então Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, hoje intitulado Instituto do Emprego e Formação Profissional, permitiu à associação estabelecer as suas atividades na Igreja do Convento de Xabregas, em plena Rua de Xabregas, tendo o espaço começado a ser identificado unicamente como Teatro Ibérico, o que ainda hoje se mantém.
Nos últimos anos, fruto da carência de fundos, o Teatro Ibérico encontrava-se estagnado, pelo que tornou-se necessário recompor os órgãos sociais da Associação. Mais recentemente, Laureano Carreira acabou por tomar conta da Associação com um projeto ligado à música, óperas, teatro lírico, etc, pelas ótimas condições acústicas que o Teatro possui.
Em 2016, com a chegada da Companhia João Garcia Miguel a programação diversificou-se, o que permitiu cumprir um dos objetivos da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia do Beato: “ter um grande teatro na Freguesia, com uma programação cultural regular”, afirmou João. A magnífica acústica e a arquitetura religiosa conferem ao espaço características únicas.
O espaço do Teatro Ibérico deverá, segundo o diretor, ser dedicado à criação e apresentação de propostas artísticas contemporâneas que preencham requisitos de originalidade, radicalidade, liberdade e proximidade em todas as suas formas de relação possível entre públicos e artistas.
Para o futuro próximo conta com muitos projetos na manga: um texto de Eurípides (Medeia) reinterpretado, com dois grandes atores e o piano de Mário Laginha e um outro projeto no Brasil com 2 ou 3 atrizes (Casa de Bernarda Alba).
O último Baile do Engate
O Baile do Engate foi uma criação própria com a intenção de chamar a atenção e mudar um pouco a visão coletiva do Teatro Ibérico que era “muito ortodoxa e clássica”, na opinião de João. Acabou por ter um grande sucesso, envolver e atingir massas, ser um ponto de encontro de artistas, com um poder de congregação de disciplinas diferentes.
No dia 11 de novembro será a última edição do Baile do Engate que terá até uma artista alemã que fez questão de vir gratuitamente para participar no último evento: “Foi uma experiência muito boa e com grandes resultados, mostramos o teatro ao mundo, mas é momento de acabar, consome muito tempo e recursos, é importante saber dizer “acabou” e renovar os projetos”, contou o diretor da Companhia.
A autenticidade da zona oriental de Lisboa
Situado na rota do oriente que vai do Terreiro do Paço ao Parque das Nações, o Teatro Ibérico considera-se “uma sala de teatro aberta para o mundo”. Procura ser audaz a descobrir novas formas de fazer arte, com e na cidade, para e com as diferentes comunidades que cá vivem.
As zonas do Beato e Marvila ainda mantêm a sua autenticidade mas estão num momento de viragem, atraindo novos negócios e, na opinião de João, até demasiados. “Estamos numa zona que tem tanto de maravilhoso como de decadente. E este Teatro reflete isso mesmo. O espaço e toda esta zona encaixam muito bem na forma de estar da Companhia João Garcia Miguel, porque o nosso trabalho tem muito a ver com música, com som, com o corpo, com a exploração das formas teatrais e narrativas. Aqui, sente-se uma energia única para o mister artístico. Talvez seja esta aura cerimonial, esta religiosidade, este lado ritual que nos envolve quando entramos no Teatro Ibérico…” concluiu João Miguel.
3 Comentários
[…] Teatro Ibérico apresenta “Medeia” com música de Mário Laginha […]
Preciso falar convosco, sobre a possibilidade de alugar o teatro para uma ação especifíca de um dia – concretamente 11 de março.Obrigada. Ana Sousa – 918 888 079
Olá Ana. O Orientre é apenas uma plataforma de divulgação. Para falar com o teatro terá que entrar em contacto direto com eles.